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quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

POEMAS

SAGACIDADE É SABER FAREJAR DELÍCIAS...

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Cidade fundida

a cidade tem como alma estopa. pôs água quente na chaleira. bebeu água estragada quando criança e desde então sonha com máquinas de moer nuvens. muro que anda. vizinha de frestas absurdas. camaleão de lata. ela é comadre de grilos, sapos e baratas.

a cidade é neta bastarda de um negro fudido. fantasma de indignação e destemperança, morto, desde os primórdios da infância, sem comprimido que dê alívio. barbaramente esquecido, neste antro de mofo e repugnância. perdido nas amarras da ciranda não há senão o labirinto. já a epiderme - sua sina - um amontoado de chacinas. alimenta-se de toda guerra, circula-se da morte-novelo. nunca existiu senão à esmo. nunca vai senão à merda!

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Pobre-diabo


dentro de um antro externo o pobre-diabo é todo acaso. reclusão. fodido (no pior sentido) sem língua ou lira este animal é só narinas. trapos. sangüíneo (no pior sentido) teso (no pior sentido). bandido. dentro de um antro patético (incorporado pelo encosto da exclusão) é esterco preto (só não germina a si mesmo). pois, é só serventia, para a violência do estado ou da burguesia. e estes, como as feras de Dante, sentem até mais fome depois que comem.

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 O menino que coitou-se


nascido em cascadura (bairro mais trash do Rio). filho de penia jackson e poros jackson. desde sempre michael tornou-se um eros amputado. uma sandy amulatada. sim. renegava a todo custo a malícia paterna. sim. era todo pobreza-mamãe. sem astúcia seu reino situava-se onde tudo era menos (músculos, pêlos, nariz). daí tornou-se um ninja de si mesmo. a todo custo resguardou-se do mundo (máscaras, luvas, guarda-chuvas). enfim. cinqüenta anos se passaram e o pobre que coitou-se morreu de dó e de dor. aliás. não foi sequer um defunto de corpo presente. é. ninguém pode achar aquele que se escondeu atrás de si .


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 Luisa Liberato


verifiquem seus marcapassos. esqueçam suas rígidas marcações teatrais. terá luísa liberato nascido de uma macumba espacial? já que só a cada cem anos uma dessas aparece no nosso subúrbio planeta. seria ela uma espécie de magirus para o céu? hall do inferno? ou seria ela apenas uma suzie-amulatada. um cetauro-fêmea?

-muito prazer, eu sou modelo-manequim-artista-de-tv. você?

-poeta de merda, encantado...

mas o que fazia tal musa no lado ímpar da avenida? aqui onde o sonho e o que a vida pode ser se bifurcam. a vida (substantivo feminino) às vezes se esconde em lugares inesperados. em certas noites costuma produzir na orla lelé da nossa cuca uma espécie de epilepsia, isto é, um descontrole motor generalizado. contudo, indiferente a calorosa galera da baba platônica, ela passava amamentando até as frestas dos nossos mais íntimos desejos. sim. a graal-fêmea seguia impávida como que anunciando: o circo já foi embora


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